sábado, 11 de maio de 2013

ANALISE DO DANTE'S INFERNO


Dante's Inferno criou uma certa expectativa em diferentes segmentos da arte. Para começar, quando a Electronic Arts anunciou que estava realizando uma versão gamística de um clássico da literatura do século 14. Imagine, todos os fãs de literatura iriam querer jogar um jogo baseado na Divina Comédia, de Dante Alighieri! E então, o público encontrou um Hack and Slash Action fatalmente inspirado em outro clássico, desta vez gamístico mesmo: God of War, da Sony. Gerando comparações e aflições de ambos os lados, tudo indicava que o jogo seria um desastre completo ou uma ideia muito bem sucedida. Qual é a minha opinião a respeito? Leia esta análise para descobrir.

DANTE'S INFERNO

Informações técnicas

Publicado por: Electronic Arts
Desenvolvido por: Visceral Games
Gênero: Hack and Slash Action
Diretor: Jonathan Knight
Plataforma: Playstation 3, Xbox 360 e PC
Data de lançamento: 4 de fevereiro de 2010
Faixa etária: Mature

Sobre a história (contém spoilers)
É interessante contar a história de um jogo que é baseado em um livro, principalmente quando o livro do qual estamos falando é um clássico da literatura. Porém, não se engane: Dante's Inferno mostra quase nada sobre o que se passa no poema épico A Divina Comédia, de Dante Alighieri. Trata-se de uma adaptação conveniente para eles sobre a obra precursora da literatura italiana e uma das maiores obras da literatura mundial. Vamos tentar traçar panoramas comparativos ao máximo que pudermos.

Primeiramente, vamos falar sobre a obra literária. Divina Commedia, como é conhecido na Itália, foi escrito entre 1308 e 1321, por Dante Alighieri, e mostra a jornada pós-morte do próprio Dante. Após morrer, o pastor deve atravessar o inferno, o purgatório e o inferno até conseguir chegar ao paraíso. Tudo isso está composto em três cânticos (respectivamente, InfernoPurgatorio e Paradiso), e cada cântico dividido em 33 cantos. Relatadas em primeira pessoa, as aventuras de Dante começam um dia antes da Sexta Feira Santa e acabam na quarta-feira depois da Páscoa.
Dante não explica como foi parar no submundo, mas ele vai parar no Inferno. Cercado de feras perigosas (as quais representam os pecados), ele logo recebe ajuda de um homem, ou melhor, uma alma. Trata-se de Virgílio, poeta romano que serviu de inspiração para a carreira literária de Dante. Veja um busto dele aqui:

File:Publius Vergilius Maro1.jpg

Virgílio foi enviado até Dante por ordens expressas de uma mulher chamada Beatrice Portinari, uma mulher idealizada por ele. Beatrice era uma mulher florentina pelo qual Dante (o escritor) se apaixonou desde os 9 anos de idade, e para ele simboliza claramente a religião, o amor divino, a incarnação do amor e da visão beatífica. Veja um quadro pintado com a imagem simbolizada dela:


Ah, e a Santa Luzia, santa padroeira dos olhos e dos deficientes visuais, foi a que alertou a Beatrice sobre a chegada de Dante ao Inferno. Estima-se que o motivo para isso tenha sido que Dante era deficiente visual quando pequeno, e ela o protegeu.
Pois bem. Virgílio leva Dante até Caronte, o ser que faz a travessia do rio do Inferno, o rio Aqueronte. Após atravessarem e chegarem ao Inferno, chegaram a Minós, o juiz que julga todas as almas que chegam, e decide para onde elas vão. Depois, Virgílio acompanha Dante por sua viagem, passando pelos 9 círculos do Inferno. O 1º círculo é o do Limbo, que é o local para onde vão as almas das crianças não-batizadas e das pessoas que nasceram antes de Cristo. O 2º é o da Luxúria, o 3º é o da Gula, o 4º é o da Avareza, o 5º é o da Ira, o 6º é o da Heresia, o 7º é o da violência, o 8º é o da fraude e o 9º é o da traição.
Dante ainda passou pela a cidade de Dite, que é a cidade onde moram os hereges. Esta cidade serve de separação entre pecados que se comete conscientemente dos que se comete inconscientemente; e pela selva de Hárpias, onde ficam os suicidas. Lúcifer ainda se encontra na camada mais inferior do Inferno.
O Monte Purgatório é formado por 9 anéis, e também cabe a Virgílio guiá-lo. O Jardim de Éden se encontra no topo do Purgatório, próximo à passagem para o Paraíso. Por ser pagão, Virgílio não pode entrar no local, e então Dante é guiado por Beatrice.

Bem, e é isso. Até agora, eu só falei sobre o livro (tive de reler a obra A Divina Comédia para poder fazer essa pequena síntese, mas tudo bem). Chegou a hora de falar sobre o game, mas saiba que ele não tem muita coisa do livro que acabei de sintetizar. Trata-se apenas de uma referência básica a alguns dos personagens, e tal, mas não passa disso, também. De certa forma, não é preciso ter lido a Divina Comédia para entender o que se passa no jogo, mas devo alertar que tem algumas informações do jogo que podem parecer deslocadas, mas que se tornarão muito mais interessantes se você tiver lido o livro. Basicamente, aconselho que leia o livro (pelo menos o primeiro cântico) antes de jogar o jogo, pois assim você terá uma  outra visão sobre a história, com toda a certeza. Tenho dito.
Vamos, agora, para a história do game:

A história do jogo mais uma vez gira em torno do personagem Dante Alighieri. Só que ele não é mais um simples escritor. Dante se tornou, não me pergunte como, um cavaleiro templário das cruzadas, a serviço da Igreja Católica. Veja uma imagem dele, pelo jogo:


Violento e inconsequente, Dante cometeu centenas de pecados em nome da Igreja, entre eles assassinato, gula e luxúria. Pouco se sabe sobre ele ou sobre a família dele no começo do jogo, apenas que ele cometeu muitos pecados. Esses pecados são revelados com mais detalhes conforme a história prossegue.
Tudo começa em 1191, quando os templários da Terceira Cruzada conseguiram capturar a cidade de Acre, a qual fica a 30 milhas de Jerusalém. Durante o aprisionamento dos habitantes, Dante encontrou uma fuga de prisioneiros em Acre. Durante a luta, Dante acabou sendo apunhalado pelas costas por um deles, e morreu.
A chegada de Dante ao inferno foi bem prestigiada para a Death, ou a Morte.

Death Badass.jpg

Tanto é que ela recebeu Dante pessoalmente, alegando que os pecados de Dante são o bastante para muita dor e muito sofrimento aqui no inferno. Dante se sente confuso, afinal de contas, seu bispo sempre lhe dissera que os cavaleiros das crusadas teriam seus pecados absolvidos por Deus, por se tratar de uma causa nobre aquela pelo qual eles estavam lutando. Sem entender nada, Dante desafia a Morte. E não é que ele acaba vencendo-a? Dante consegue roubar a Foice da Morte, e matá-la com ela.
Ciente de que seus pecados não seriam facilmente absolvidos, e de que havia sido enganado pelo seu bispo, Dante decide então levar uma vida de pecador, e tentar descobrir a verdade por trás de seus atos. Dante decide deixar de ser cavaleiro e voltar para casa. No caminho, ele costura, em sua própria pele, um tecido vermelho em formato de cruz no próprio peito. O tecido teria a intenção de lembrá-lo de seus pecados.
Dante volta para Florença, onde vive sua família: seu pai e sua esposa. Chegando em casa, ele descobre que seu pai, Alighiero, está morto no meio da casa com um crucifixo enfiado no olho direito. Além disso, sua esposa, Beatrice, estão mortas. Dante se aproxima do corpo de sua falecida esposa. Ela aparece em forma de espírito e conversa com ele. Veja uma imagem de Beatrice Portinari:


Beatrice diz que o aguardou até o último instante, e que sempre achou que ele viria. Então, uma nuvem escura aparece e leva Beatrice embora. Dante segue essa nuvem, só para descobrir que se trata de ninguém mais, ninguém menos do que Lúcifer, anjo caído do céu e imperador do inferno.

Dantes Lucifer.jpg

Lúcifer sequestrou Beatrice para que se tornasse a sua esposa. Ao encontrar com Beatrice novamente, ela lhe pergunta porque ele a traiu. Calma, mais detalhes sobre essa traição virão no futuro. O que importa é que Dante decide ir até o inferno atrás dela, e então aparece Virgílio. Sim, o mesmo Virgílio Maro, poeta romano que serve como guia de Dante no inferno.

Virgil Head.jpg 

Sempre guiado por Virgílio, Dante avança no inferno. Ele consegue pegar o barco que o leva ao inferno propriamente dito, o Caronte.

Charon Head.jpg

Continuando pelo inferno, Dante encontra algumas personalidades do livro, como o Rei Minós, no Limbo, e também Cleópatra, no círculo da Luxúria. Ainda no círculo da Luxúria, Dante ainda reencontra Beatrice mais uma vez, a tempo de vê-la se casar com Lúcifer. Ela lentamente começa a se transformar em demônio. Dante desce ao círculo da Gula e enfrenta Cérbero.
Dante reencontra Lúcifer, que, para atormentá-lo, mostra-lhe a morte de seu pai e de sua mulher. Lúcifer revela a ele que ambos foram mortos por um homem que conhece bem. Um dos prisioneiros das cruzadas. Há algum tempo, Dante recebeu uma proposta, de uma bela garota escrava, de que ela poderia "confortá-lo" com uma bela noite de sexo. Apesar de ter prometido a Beatrice, sua esposa, que jamais a trairia com outras mulheres, Dante tem relações com essa mulher, e, em troca dos serviços dela, ele manda soltar tanto ela quanto o irmão dela. Acontece que o irmão dela não era o irmão dela, e sim o marido dela. E o cara não gostou nada de ver sua esposa fazendo sexo com um cavaleiro das cruzadas. Por vingança, o homem foi até a casa dele e matou seu pai e sua esposa.
Após descobrir isso, Dante segue até o círculo da Avareza. Ali, Dante consegue destruir a Roda da Fortuna e depois encontra seu próprio pai, Alighiero. Veja como ele se tornou:

Alighiero.jpg

Porque Alighiero se encontra no círculo da Avareza? Em vida, Alighiero era um homem muito ruim. Como comerciante e um homem importante de Florença, ele roubava dinheiro dos pobres, e o usava para pagar grandes banquetes, com muita comida e bebida, e também belas prostitutas. Um homem sórdido, capaz de abusar sexualmente de sua própria esposa, sempre que ele quisesse sexo e ela não. Bem, é assim que ele era, portanto, esse lugar é mais que adequado, não? Como Lúcifer lhe prometeu 1000 anos sem tormento e muito dinheiro caso ele conseguisse matar seu próprio filho, Dante e ele se enfrentam. Dante vence, e então absolve seu próprio pai.
Dante então chega ao círculo da Ira, e atravessa o rio Estige, com a ajuda de Flégias, o rei que serve como ferreiro do rio. Veja-o:

AngerBoss.jpg

Dante se encontra mais uma vez com a Beatrice. Lúcifer revela a todos a promessa entre Dante e Beatrice. Aparentemente, Dante e Beatrice se conheceram na adolescência. Em pouco tempo, eles se apaixonaram, e queriam se casar, mas Dante queria seguir como cavaleiro templário, viajando pelo mundo em nome de Deus. Beatrice então ofereceu-se a ele, mesmo que fosse pecado um casal transar antes do casamento. Mas ela fez isso m troca de uma promessa: que Dante jamais transaria com outra mulher. Pois é. Ela até deu a ele uma cruz que ele guardou como recordação da promessa. Dante manteve a promessa, até aquela noite que ele passou com aquela escrava que deu pra ele em troca da liberdade. Por isso, Beatrice se sente humilhada por ter sido traída por Dante, e disposta a ficar com Lúcifer (quanta humilhação, para aceitar isso, hein!). Ela come então três sementes de romã (uma homenagem a Perséfone, mulher de Hades, o deus do Inferno da Mitologia Grega) e se transforma em uma versão feminina do demônio.Eles então se beijam apaixonadamente (em um beijo grotescamente medonho, diga-se de passagem). Dante consegue, então, entrar na cidade de Dis, o círculo da Heresia. Avançando ainda mais fundo, ele chega ao círculo da Violência. Após atravessar o rio Flegetonte, ele chega ao Bosque dos Suicidas, onde encontra a sua mãe. Bella Abati, mãe de Dante, está ali para ser punida para sempre. Veja-a:

Mother.jpg

Dante sempre imaginou que sua mãe morrera em um surto de febre, mas a verdade é que ela se matou para não viver com seu pai, que era um calhorda sem escrúpulos. Puxa vida. Dante a absolve e segue em frente. Dante chega, então, às Areias Abomináveis, onde ficam as almas daqueles que cometeram atos contra Deus. Aqui, Dante reencontra Francesco Portinari, irmão mais novo da Beatrice.

Francesco Violence.jpg

Francesco, em vida, foi um dos mais leais cavaleiros templários da história. Amigo fiel de Dante, ambos caminhavam lado a lado, e lutavam juntos. Ambos estavam presentes na tomada de Acre, e eram os responsáveis por tomar conta dos reféns. Quando a garota escrava se ofereceu para Dante, foi Francesco que impediu que o marido dela matasse Dante. Após os dois tomarem Acre, Dante queria matar todos os prisioneiros. Francesco foi contra, dizendo que eles poderiam servir de moeda de troca contra Saladin, o maior inimigo deles. Dante não ligou para a objeção de Francesco, e matou todos os prisioneiros que ele conseguiu botar a mão, alegando, em fúria, que eles eram hereges e não tinham o direito de estar vivos. Quando o rei Richard I, o líder dos templários pelo qual tanto Dante quanto Francesco obedeciam, descobriu, ele ordenou que o responsável se entregasse. Francesco, em compaixão por Dante, resolve se entregar, e é brutalmente executado. Dante, o verdadeiro culpado, fica sem punição, e não sente nem mesmo remorso pelo amigo. Que amigo, hein?
Bem, Francesco quer vingança sobre Dante, mas Dante acaba derrotando-o. Após Dante absolvê-lo, ele segue em frente. Entrando no oitavo círculo, o da Fraude, Dante reavê Beatrice, que o obriga a percorrer os desafios de Malebolge. Quando Dante sobrevive aos desafios, Beatrice começa a brigar com ele. Ela grita para ele que ele deve parar de tentar salvá-la, pois tudo o que ele fez foi fazê-la sofrer. Ele até mesmo foi o responsável pela morte do irmão dela! Diante de suas palavras, Dante se redime. Ele aceita seu destino, e diz que não vai mais tentar salvá-la. Dante aceita que é um pecador, e que seu lugar é ali, no inferno. Então, ele mostra a Beatrice a cruz que ela lhe deu antes de ele se tornar um cavaleiro templário. Beatrice se emociona ao ver que Dante guardou, com tanto carinho, a cruz que ela lhe deu de presente, e então ela decide esquecer tudo o que disse (como mulher muda rápido de opinião, não é não?). Dante consegue absolver Beatrice, que sai do inferno e vai para o paraíso.
Dante segue em frente e chega ao último círculo, Traição. Frente a frente com Lúcifer, o demônio confessa que nunca teve qualquer interesse em Beatrice. Ele apenas queria se casar com alguma alma bondosa que fosse predestinada ao paraíso para que, desta forma, Deus não pudesse lhe negar acesso dentro do paraíso.  Lúcifer tencionava usar isso como pretexto para invadir o paraíso com todos os seus demônios, tomando o lugar que era dele por direito. Eles se enfrentam, e Dante vence. Lúcifer ameaça fazer Dante voltar para a vida real, onde ele morrerá pelas mãos do mesmo homem que matou seu pai e sua esposa. Afinal, a alma de Dante está aqui, e seu corpo já está morto. Dante, então, diz que salvou muitas almas, e as almas que ele absolveu virão para salvá-lo. E é isso que acontece. As almas que Dante absolveu no decorrer do jogo voltam para resgatá-lo, e terminam por aprisionar Lúcifer.
Dante então desperta no Purgatório, ao lado de Beatrice. Dante percebe que ele não está vivo e nem morto. Como ele foi mortalmente ferido pelas costas, ele não está mais vivo, mas, como ele matou a própria Morte e não foi entregue ao mundo dos mortos, ele também não está mais morto. Em um meio a meio, ele se encontra diante de Beatrice. Dante retira a cruz do peito, a qual se torna uma serpente. A risada de Lúcifer pode ser ouvida enquanto Dante segue em direção de Beatrice no Purgatório, e aparece uma mensagem indicando que esse a história ainda continua...

Esta foi a história de Dante's Inferno. Espero que tenham gostado!

Sobre o jogo

Dante's Inferno é um Hack and Slash Action, ou seja, um jogo de pancadaria extrema, no qual muitos inimigos pipocam na tela e temos de acabar com eles usando combos e séries frenéticas de movimentos. Tudo bem que há elementos de Puzzle, no qual temos de resolver alguns quebra-cabeças, e elementos de Platform, no qual temos de saltar alguns buracos e subir para alcançar algumas plataformas mais distantes, mas o foco mesmo é descer a lenha no bando de inimigos que aparecem.
Desde o começo do jogo, o jogador já é impulsionado a entrar na ação de cabeça, fazendo muitos e muitos combos usando a sua foice. O sistema de combos é simples e intuitivo: com o botão quadrado, poderá realizar um ataque rápido, com triângulo, um ataque mais lento e mais poderoso, e então poderá realizar combos intercalando os dois botões. Também é possível arremessar os adversários no ar, saltar e continuar o combo lá de cima. Se preferir, ainda pode agarrar um oponente para arremessá-lo nos outros, ou usar o analógico direito para circundar o inimigo com movimentos rápidos e atacá-lo pelas costas... Mas espere um pouco. Esse padrão de movimentação não lhe parece um pouco familiar?
Pois é. Se você por acaso estava imaginando que essa movimentação estava muito parecido com a de God of War, você acertou em cheio. Qualquer fã de God of War não precisará de mais do que alguns segundos ao controle desse game para perceber que a jogabilidade é muito parecida. Ele não demorará para realizar os mesmo combos, e ver que até mesmo a dinâmica de golpes está muito semelhante. Seria uma cópia desavergonhada? Talvez. Uma tomada como referência? Hum, pode ser. Agora, o que não pode ser feito é dizer que foi pura coincidência.
Dante's Inferno chegou em um patamar no qual dizer simplesmente que ele é um "clone de God of War" chega a ser repetitivo e básico demais. O jogo é um clone de God of War, tudo bem, mas ele próprio assume isso. A equipe da Visceral Games jamais, em nenhum momento, escondeu o fato de que eles adoram God of War, e queriam fazer algo semelhante. Dante's Inferno veio com a intenção de aperfeiçoar, incrementar a experiência de games do tipo God of War. E ele faz justamente isso. Ponto.
Também não se chega ao cúmulo de ser plenamente idêntico os movimentos. Dante possui alguns golpes especiais, como um ataque no qual usa cruzes para afastar os oponentes. Há algumas magias especiais que são bem diferentes, também. Porém, o número de semelhanças é gritante. Dante também possui um God Mode, que consome uma barra especial e deixa Dante imortal, mais forte e mais poderoso por alguns segundos. Dante também possui uma barra de MP que vai sendo consumido conforme as magias são usadas. Dante também pode realizar um golpe especial de extermínio em algum monstro quando ele perde boa parte de sua vida (em contrapartida, o jogador pode escolher se o movimento final será de salvação ou de punição). Dante também coleciona as almas dos inimigos mortos e os usa para comprar novos poderes e  novas magias. Dante também abre baús para pegar relíquias e itens especiais que, quando acumulados em ma quantidade especial, liberam prêmios fabulosos. São coincidências o bastante para você?
Vamos falar agora sobre algumas diferenças. A barra de aperfeiçoamento de magias e poderes não é como em God of War, no qual vamos fortalecendo as várias armas e magias que possuímos. Ela é segmentada, e o jogador vai avançando aos poucos. Para "comprar" os itens, usamos as almas capturadas, que podem vir de inimigos mortos ou de pilares vermelhos. Caso Dante consiga encontrar cinco Silver Pieces, que são itens especiais, também, ele conseguirá 3.000 almas, uma quantidade boa de almas. Esta tela de aperfeiçoamento é separada em dois tipos: poderes e magias sagradas e não-sagradas. Por fim, cada tipo, independente entre si, é separado em vários e vários níveis, que são como andares. Dante é capaz de conseguir pontos sagrados ou pontos não-sagrados, e esses pontos vão evoluindo cada uma das telas, permitindo mais e mais poderes e magias em cada novo nível habilitado. Cabe ao jogador escolher se ele quer fortalecer mais seu lado sagrado, ou não-sagrado, ou se prefere manter um equilíbrio entre ambas as partes. Quanto mais níveis, mais magias. E vale lembrar que os dois lados são independentes, ou seja, os poderes que estão do lado sagrado não são acessíveis do lado não-sagrado. Trata-se de uma escolha que tem de ser feita. Entre os itens que você pode comprar, encontram-se novos poderes, novos golpes, novas magias, versões mais fortes das magias já existentes, alguns atributos especiais (como o fato de poder receber HP e MP sempre que matar um oponente), além de poder também aumentar a barra de HP e de MP.
Você deve estar se perguntando como Dante é capaz de conseguir pontos sagrados e não-sagrados. Pois bem, há várias formas. A mais básica é com os inimigos: alguns dos inimigos mais fortes, após perderem boa parte da vida deles, abrem espaço para receberem um ataque de misericórdia. Ao realizar esse ataque, o jogador poderá escolher se abençoa o monstro para que ele vá ao céu, afinal, se trata de uma alma corrompida com o qual estamos lutando, e tal, ou se amaldiçoa o demônio, levando-o às profundezas do inferno de uma vez por todas. Quanto mais monstros você abençoa, mais pontos sagrados ganha. Quanto mais você amaldiçoa, mais pontos não-sagrados ganha. Simples assim.
Mas esse procedimento, convenhamos, demora muito. Existe um meio mais fácil. Espalhados pelo jogo, estão diversas almas penadas que estão presas ao inferno, e dependem de sua ajuda. São pecadores que se encontram em momentos de desespero, e precisam de um guia. Você saberá que está perto de um porque eles irã começar a lamentar e falar o tempo todo. Aí, é só procurá-los e conversar com eles. Aparecerá o nome deles, assim como um pequeno resumo de suas ações na Terra  Verá se aquela alma foi adúltera, ou viciada em jogo, se pecava pela gula, ou pela avareza, ou pela ira, enfim, estará tudo ali bonitinho. E então, você decide: punir ou absolver? Vai bem da sua cabeça decidir isso, e isso impõe um julgamento de valores em cima dos pecados da pessoa. Eu, pessoalmente, não ligava muito e saia decidindo a vida dessas pessoas na base do "qual é o que tem menos pontos?", mas você pode querer julgá-los um por um. Saiba que muitos desses nomes são personagem que aparecem no livro de verdade, o que é bem legal. De qualquer forma, são essas almas que fornecem o maior número de pontos.
Em Dante's Inferno, também temos de procurar relíquias. As relíquias são itens especiais, que, quando equipados, fornecem atributos especiais, como, por exemplo, aumentar o dano, diminuir o dano sofrido, aumentar os pontos dos combos, aumentar o tempo para se realizar combos, e por aí vai. Essas relíquias geralmente se encontram bem escondidas nas fases. Após encontrar uma relíquia, poderá equipá-la ou desequipá-la quando quiser. Poderá equipar várias relíquias ao mesmo tempo (conforme o número de slots de relíquia que comprar), e tem mais: elas evoluem com o passar do tempo. Quanto mais experiência ganhar com uma relíquia, ela pode ir subindo de nível, aumentando a sua eficiência. Isso é bem legal.
Assim como God of War, Dante's Inferno também possui elementos de Puzzle. Isso quer dizer que há pausas entre as batalhas e a carnificina para alguns quebra-cabeças básicos. Tem alguns quebra-cabeças que são bem simples, outros podem demorar um pouquinho mais de tempo para serem compreendidos. Infelizmente, a exemplo de God of War, vários desses quebra-cabeças parecem totalmente deslocados. Para quê colocar quebra-cabeças em um jogo de ação? Tudo bem que eles querem exigir um pouco de raciocínio, o.k., mas não precisa ser tão frequente, não é mesmo?
Agora, vamos falar de alguns problemas. O mais gritante é que o jogo é pobre demais de movimentos e de combos. Vivemos em uma nova época de Hack and Slashs, no qual o jogo que se preza a ser Hack and Slash nos dias de hoje precisa ser criativo e inovador a ponto de fornecer ao jogador sempre novos e mais incríveis combos. Basta ver a evolução que foi ocorrendo aos poucos entre um Devil May Cry e outro, assim como entre um God of War e outro. A cada novo jogo, mais e mais armas, mais combos, mais golpes especiais, e mais versatilidade de movimentos. O jogador de hoje, acostumado a jogar esses outros games, espera encontrar uma evolução, afinal, esse jogo é contemporâneo de God of War 3 (Dante's Inferno foi lançado um mês antes) e ainda de Devil May Cry 4 (Dante's Inferno foi lançado dois anos depois), então não tem qualquer motivo para ele ser INFERIOR! E é o que podemos perceber: em uma comparação básica, Dante's Inferno possui uma jogabilidade muito inferior a outros jogos Hack and Slash Action disponíveis no mercado na mesma época em que ele foi produzido. Não tem desculpa para ele se encontrar em um patamar não-evoluído, como os outros. A impressão que fica é que Dante's Inferno foi lançado bem antes dos outros, e foi ultrapassado. Quando deveria ser o contrário.
Após fechar o jogo uma vez, o jogo lhe fornece o modo Ressurrection Mode, no qual poderá recomeçar o jogo do começo, com as mesmas habilidades e magias, porém com uma dificuldade bem maior. De fato, vale a pena tentar fechar novamente só para conferir o salto na dificuldade do game. Se bem que o jogo já vem com quatro dificuldades: Classic (Easy), Zealot (Normal), Hellish (Hard) e Infernal (Very Hard). Caso queira, o jogador pode experimentar as diferentes dificuldades. Fora isso, habilitará ainda um modo especial de jogo, chamado Gates of Hell Arena. Nesse modo, Dante terá de destruir uma horda de inimigos que aparecem em sequência, com tempo cronometrado. É quase como um Survival Mode, no qual o jogador luta contra o tempo e ganha alguns segundos a mais se obedecer algumas regras do jogo. Se o jogador sobreviver a 50 hordas de inimigos antes que o tempo acabe, ganhará alguns extras.
Infelizmente, Dante's Inferno não possui muito mais do que isso. O jogo só possui um final, e a única coisa que pode fazer com que o jogador queira continuar jogando o game é a questão de fortalecer o personagem ao máximo. De resto, não espere mais nada do game, pois não haverá qualquer tipo de extra para conferir, exceto algumas informações interessantes sobre o livro, mas que não acrescentam em nada para o jogo em si.

Minha análise do jogo

Gráficos
Os gráficos não são de primeira linha, daqueles que nos fazem apreciar tudo o que o videogame é capaz de fazer de melhor. Não são ruins, no entanto: os personagens foram muito bem modelados, e os efeitos especiais que abundam em cada cena e em cada luta foram muito bem produzidos. Assim como as animações especiais, que também não fazem feio. Mas os cenários são simplistas demais, e dão a impressão de serem demasiadamente repetitivos. Você enjoa muito de ver os cenários sempre repetindo, sem muita variação entre eles, principalmente nas cores. Enfim: gráficos bons, apenas não são os melhores que podemos encontrar disponíveis por aí, nem são daqueles de cair o queixo a todo tempo. Era possível caprichar bem mais, então, o empenho da Visceral Games com os gráficos foi considerável.● Nota pessoal: 3/5 (Empenho Considerável)Som
As músicas presentes no game foram compostas por Garry Schyman, o mesmo de Bioshock, Destroy All Humans e Resistance: Retribution, entre outros. O cara é referência e manda muito bem: ele soube passar o clima de terror da obra para o jogo, através da ação e do suspense sempre em alta. As composições são um dos pontos fortes do jogo, e não deixam a dever em nada para outros games. A dublagem dos personagens está razoável (não é a melhor dublagem dos games, mas está longe de ser ruim), e os sons que podemos ouvir, de golpes, berros, gritos, gemidos e outras coisas mais, presentes só para dar uma atmosfera ainda mais aterrorizante, também não falham no seu dever. No todo, o empenho da Visceral Games com o som foi excelente.
● Nota pessoal: 4/5 (Empenho Excelente)

Jogabilidade
Aqui se encontra um dos maiores pecados do game. A jogabilidade de Dante's Inferno segue o padrão de jogos Hack and Slash Action da geração passada, e não acompanhou as inovações. O jogo apresenta apenas uma arma, e uma quantidade limitada demais de golpes para um jogo que tem como foco principal a fluidez dos combates. Dá para enjoar fácil dos combos que são possíveis de se fazer, e pior: os inimigos nem exigem tantos golpes assim. Muitos inimigos morrem rápidos demais, e o jogo não estimula o jogador a ser mais rápido e mais preciso nos golpes, como em outros Hack and Slash Actions. É basicamente mais um "esmaga-botões", e mesmo assim nem é dos melhores. Uma pena, mas é inaceitável nesta nova geração. A impressão que fica é que a Visceral Games teve um empenho apenas mediano com a jogabilidade.
● Nota pessoal: 2/5 (Empenho Mediano)

Diversão
Dante's Inferno é um daqueles games que se salva pela diversão. O jogo é esquisito, é medonho, é perturbador, daqueles que alguns ficarão enojados de ver várias cenas, mas é um jogo interessante de se jogar. A história não é fiel necessariamente ao livro, mas foi bem pensada, e é uma das mais grandiosas e mais espetaculares dos últimos tempos. A ação do jogo é quase que ininterrupta, e, quando não estiver esfolando inimigos, estará procurando itens ou resolvendo quebra-cabeças. O avanço do jogo é frenético. Um pouco repetitivo, é verdade, afinal, não dá para ser perfeito. Não vou dizer que o jogo é sempre variado, pois haverá combates que você irá bocejar de tão previsíveis e simples. Mas o chefes são difíceis (principalmente os últimos), e colocarão suas habilidades à prova. Entre altos e baixos, posso afirmar que o empenho da Visceral Games em realizar um game divertido foi excelente.
● Nota pessoal: 4/5 (Empenho Excelente)

Longevidade
O jogo leva de oito a dez horas para ser fechado. E, uma vez que ele for fechado, não sobrará muita coisa para fazer: poderá recomeçar o jogo, pelo Ressurrection Mode, e fortalecer seu personagem ao máximo possível. Poderá ainda conhecer as dificuldades mais difíceis. Mas é só. Não há finais alternativos, extras e nem nada. Para um game single player, isso é quase que inaceitável, e uma mostra de que a Visceral Games não aprendeu com God of War tudo o que deveria. Para compensar, tem o Gates of Hell Arena, um modo extra que não é nem de perto tão viciante quanto o Challenge of Olympus. Uma pena, mas o empenho da Visceral Games com a longevidade do game foi mediano, apenas.
● Nota pessoal: 2/5 (Empenho Mediano)

Inovação
Dante's Inferno é uma cópia inconsequente de God of War, e quanto a isso, creio eu que nem preciso repetir: já disse muito isso no decorrer de minha análise. Leva-se em consideração que God of War nem mesmo foi o precursor de seu gênero, que é um dos estilos mais bem sucedidos e copiados da atualidade. Mas, convenhamos, a cópia de um game que já é uma cópia de outros games parece ser uma ideia patética de se cumprir. Pelo menos, God of War alcançou um status de referência. Mesmo que o jogo da Sony não fosse o precursor, era um dos mais inovadores, e apresenta um padrão de qualidade que era um ponto a ser seguido. A Visceral Games seguiu esse padrão de qualidade. Dante's Inferno não consegue ser inovador em praticamente nada, mas ele incrementa umas coisas que eu pessoalmente gostaria de ver em um God of War, e isso já é alguma coisa. Por isso, posso dizer que o empenho que a Visceral Games teve em fazer um jogo inovador foi mínimo. Bem pequeno. Mas pelo menos teve, não é mesmo?
● Nota pessoal: 1/5 (Empenho Mínimo)

Soma Final: 16/30 (Bom)

Em resumo: Dante-s Inferno não é um jogo ruim. Trata-se de uma interessante visão acerca de uma mundialmente conhecida obra literária, mas que falha vergonhosamente na intenção de deixar cravada a sua marca. Um jogo que se faz valer de preceitos já marcados como sendo de sucesso por outros jogos do mesmo gênero para ser divertido - o que não é necessariamente algo de bom. No entanto, não posso dizer que será uma experiência ruim ao jogador. Recomendado apenas para aqueles que curtem a obra literária, gostam muito de jogos de ação ou que são ávidos por conteúdo adulto em excesso.

                             

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