É hora de jogar a toalha e admitir: o jogo de tiro em primeira pessoa já era enquanto experiência narrativa. Call of Duty: Black Ops 2, novo capítulo da maior franquia dos "fps", tem a pior campanha em anos de qualquer jogo do gênero. Superficial, desinteressante e mais preocupada em criar novas (e furadas) mecânicas do que em efetivamente gerar qualquer interesse pelos seus protagonistas ou uma história que fuja do óbvio.
O novo episódio da série especializada em operações especiais deixa um pouco de lado os fatos políticos da primeira interação e oferece duas campanhas paralelas em momentos diferentes do tempo. Nela, um velho soldado relembra fatos de sua vida ao filho de seu antigo parceiro, que atua no mesmo caso, 45 anos depois. Dessa maneira, misturam-se de certa forma as duas grandes séries da Activision - Black Ops e Modern Warfare.
O péssimo desenvolvimento da história e seus personagens prejudica a campanha, que se agarra a novidades mal-executadas, como as histórias ramificadas, nas quais escolhas (ou simplesmente os fracassos) do jogador influenciam a missão corrente e o rumo da história. Outra novidade equivocada são as missões "Strike Force", em que o jogador deve operar como um comandante, controlando soldados, veículos aéreos não-tripulados, caças e robôs. Opcionais, essas campanhas - que funcionam muito, muito mal em termos de controles e visualização -, também podem alterar os rumos da nova Guerra Fria.
Há também um retrocesso em termos do jogo assumir o controle em cenas-chave e as missões stealth serem invertidas (normalmente é o NPC que acompanha o jogador e não o contrário). Em Call of Duty: Black Ops 2, basta seguir o líder que tudo ficará bem. Ao menos o game arrumou o maior de seus problemas: antes bastava cruzar a linha de objetivo para que seu esquadrão avançasse e um novo momento do game fosse iniciado. Aqui é realmente necessário acabar com os oponentes adiante.
De qualquer maneira, deve-se lembrar que, apesar do fracasso, o simples fato da desenvolvedora Treyarchbuscar alguma novidade em termos de campanha já é algo muito diferente do que vem acontecendo nos últimos anos, em que desenvolvedoras limitaram-se a repetir fórmulas. Tentar e errar é melhor do que simplesmente realizar o mesmo game ano após ano. E o jogo até que tem seus momentos... a invasão russa ao Afeganistão (famoso confronto em que os EUA armaram os Mujahidin, guerrilheiros que mais tarde se tornariam o Talibã) é simplesmente divertida demais pelas surrealistas sequências com lança-foguetes a cavalo.
Visualmente e em termos da mecânica básica dos FPS, a série continua extremamente competente. Toda a sequência em uma cidade (inexplicavelmente) inundada é belíssima - com ótimos efeitos d´agua - e ótima de jogar, com o apoio de robôs que parecem mini-andadores AT-AT de Star Wars.
Foco no multiplayer
Com o afastamento da principal série de tiro em primeira pessoa das campanhas, algo que a Activision fazia tão bem em jogos como Call of Duty: Modern Warfare (da Infinity Ward), obviamente, sobra tempo e investimentos para o real interesse da gigante dos games, omultiplayer.
O grande diferencial de Call of Duty: Black Ops 2 em relação aos jogos anteriores no multiplayer foi o balanceamento da experiência. O carregamento das armas que iniciam as rodadas com o 1jogador foi aprimorado (ninguém está mais preso às classes e pode gastar pontos em armas, acessórios ou vantagens) e a obtenção dos pontos e bônus mudou - de Kill Streaks virou Score Streaks - para incorporar, além das mortes, as assistências, os cumprimentos de objetivos, etc. Dessa maneira, é possível destacar-se um pouco melhor pelos seus pontos positivos enquanto competidor, já que o sistema valoriza quem ajudou no alcance no objetivo e comportou-se como uma unidade de combate e não focou-se apenas na matança.
Há muito o que ser equilibrado ainda, porém. Dentre as novas implementações, saídas dos segmentos futuristas de Call of Duty: Black Ops 2, os veículos não-tripulados Hunter-Killer e Dragonfly são infernais. Difíceis de serem vistos no campo de batalha e mortíferos, os aparelhos são piores do que a molecada de 12 anos que coleciona frags nas costas da geração Atari. Para não sofrer com eles é necessário a vantagem "cold blooded" (sangue-frio), que torna o jogador invisível aos seus sensores. Mas ela consome um dos 10 "perks" disponíveis...
Atenção foi dada também aos modos novos de jogo. Para quem não aprecia caóticos e desregrados modos no estilo "mate tudo o que se mover" - perfeitamente mantidos no game, não se preocupe -, o "Hardpoint" resgata desafios em equipe, em que trabalhar em time é essencial pelos espaços exíguos e necessidade de movimentação conjunta constante. Jogo estratégico em equipe também é o mote de "Multi-Team", que valoriza a organização de unidades menores de soldados, tornando a experiência de pertencer a um time relevante outra vez. A obtenção dos "badges" também está mais difícil, aumentando o desafio - e prestígio - dos jogadores mais experientes.
Pra completar, o modo zumbi também retorna, em versões solo e multiplayer. Há o modo clássico "Survival", que ganhou a companhia de uma pseudo-narrativa chamada "Tranzit", com um fiapo de história e missões. O terceiro é "Grief", em que dois times de humanos se enfrentam em meio a zumbis.
Quem aprecia a "zumbificação" de seus games pode se divertir algumas horas, mas Zombie Mode não é exatamente algo que agregue valor à experiência de Call of Duty: Black Ops 2. Isso deveria ter sido a campanha, que muitos já consideram um "bônus" para games assim. Se a tendência continuar - e provavelmente irá - em breve jogos desse gênero sequer terão o componente de história/ambientação, limitando-se a tornarem-se títulos especializados como os de luta ou esporte. A idéia é péssima a médio e longo prazo, já que tira valor de franquia da marca, que passa de entretenimento completo, a desejada fusão de todas as artes que os games podem ser, a esporte digital (que normalmente precisa buscar da vida real suas histórias e personagens). Ao ignorar a narrativa, os FPSs podem condenar sua relevância futura.
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