quinta-feira, 16 de maio de 2013

ANALISE DO CRYSIS 3


A constante luta pelo melhor grafismo sempre foi apanágio da Crytek, desde o primeiro Far Cry que a companhia tem trabalhado com o intuito de surpreender e fazer com que seja dado um passo em frente em termos visuais. Explorar ao máximo o hardware existente e fazer com que a indústria evolua para acompanhar o que pretendem, é a ideia que passa para fora. Saltou da produção exclusiva para PC para as consolas com Crysis 2, deixando na altura os aficionados do PC um pouco para segundo plano, muito pelo facto de no dia de lançamento estar uns furos abaixo do esperado, a nível visual.
Em Crysis 3 a Crytek volta a apostar claramente no PC, havendo uma diferença visual colossal entre as três versões do jogo. Enquanto nas consolas, PS3 e Xbox 360, o jogo arrasta-se em termos de performance e grafismo, no PC as coisas são bem diferentes. Podemos afirmar que a próxima geração já chegou ao PC, Crysis 3 é graficamente surpreendente e avassalador, em todos os sentidos. Não há comparação possível neste momento, nenhum outro jogo consegue aproximar-se do que foi conseguido pela produtora. Mas é óbvio que um jogo não vive apenas do seu visual, é necessária a ligação quase perfeita de diferentes variáveis, para que o resultado final seja o mais elevado possível.
A continuidade da história da série, 20 anos após os eventos de Crysis 2, é algo que não é muito percetível, há uma dificuldade em compreender o desenrolar dos acontecimentos, deixando o jogador um pouco perdido em relação a tudo o que o rodeia. Perdemos facilmente a sensibilidade do que realmente é suposto fazer em determinado local, encaramos cada missão com apenas o intuito de matar tudo o que se mexe, sem grandes preocupações estratégicas, e sem um verdadeiro desafio, mesmo nos níveis de dificuldade mais elevados.Somos Prophet, que renasce das cinzas, e com a ajuda do carismático Psycho parte numa campanha para derrubar a poderosa Cell, e ao mesmo tempo travar a invasão alienígena. Regressamos a Nova Iorque, completamente devastada, com seus edifícios em ruínas, onde a selva invadiu o que outrora foi uma urbe gigantesca, repleta de vida humana. O jogo é descuidado logo desde o início, muito por culpa da falta de uma visão mais cinematográfica. Não suscita empolgamento no jogador, é ineficaz no sentido de nos agarrar e fazer-nos crer que estamos perante algo que merece o nosso tempo e dinheiro.Muito do que é alcançado em termos visuais é desaproveitado em missões desprovidas de emoção e conteúdo. Tudo o que foi mostrado a nível gráfico nos diversos vídeos de promoção do jogo é bem real, mas é dado a entender que iremos passar longos períodos em determinados locais e a fazer coisas interessantes. Mas é puro engano, existem níveis deslumbrantes para os nossos olhos, mas o que temos realmente a fazer chega a ser ridiculamente diminuto para tamanha riqueza gráfica.
Crysis 3 é frustrante e desilude em muitos dos factores-chave. A jogabilidade estagnou, não surpreende. A inexistência de algo verdadeiramente novo deixa um sabor estranho no jogador. Claro que temos novas armas, o Arco é fantástico, mas a sua utilização é muitas vezes esquecida, devido a ser desnecessária. O jogo não exige do jogador uma abordagem que o faça utilizar determinado arsenal em determinada missão, não há uma seleção rigorosa do armamento, é tudo demasiado abundante. É difícil aceitar que o jogo, principalmente nos níveis de dificuldade mais elevados, não seja um desafio quase impossível. Estamos perante a possível extinção da raça humana, mas o jogo não consegue recriar tal fatalidade.
Os inimigos são dotados de uma IA quase obsoleta. Com a utilização adequada do NanoSuit e com o arsenal à nossa disposição, não há extraterrestre que resista. As armas são de facto fantásticas, em todos os sentidos, desde o design, os efeitos visuais e sonoros na sua utilização, e claro, na sua personalização. Em relação ao NanoSuit, temos algumas novidades. Existe a possibilidade de criar perfis com a combinação de quatro upgrades, que são desbloqueados através da recolha de Nanosuit Upgrade Kits espalhados pelo terreno de jogo. Sinceramente, os upgrades quase que passam despercebidos durante todo o jogo, pois a sua combinação é quase desnecessária. São eficazes e conseguimos notar na prática que influenciam o desempenho do NanoSuit, mas não existe a necessidade do os configurar e utilizar por culpa do diminuto nível de dificuldade do jogo.
Penso que a Crytek está tão concentrada no aspeto gráfico, que esquece o que realmente é importante num jogo para o jogador. É necessária uma jogabilidade que desafie e contenha algo novo. A parte da diversão é também muito importante, pessoalmente, não me diverti a jogar Crysis 3, parece impossível mas é a verdade. À medida que avançamos no jogo, estamos à espera que apareçam aqueles momentos apoteóticos, com combates frenéticos onde o caos impera, mas são inacreditavelmente inexistentes.Inesperadamente, o que mais realça do jogo é a sua componente multiplayer, aqui há evolução, existe trabalho palpável. Não é sublime, mas consegue captar a atenção do jogador, e até pode ser uma alternativa aos suspeitos do costume. Temos doze mapas à disposição, com diversos ambientes, desde instalações militares a paisagens mais verdejantes. Nas consolas podemos jogar até 12 jogadores, no PC o número aumenta para 16.
A maior parte dos modos de jogo são os de sempre neste género de jogo, havendo um que se destaca em particular, o modo Hunter. Neste modo, dois jogadores munidos com o arco, onde o Nanosuit providencia a camuflagem perfeita, vão perseguir e matar os inimigos antes que o tempo se esgote. Os outros jogadores, os sobreviventes, terão que manter-se vivos até o tempo acabar. O multiplayer não é nada de extraordinário, mas é algo que faz esquecer um pouco a dececionante campanha singleplayer.
Custa a aceitar que foi mesmo este o resultado pretendido pela Crytek. Temos em mãos um jogo absolutamente irrepreensível a nível visual, no PC, mas que falha praticamente em todas as outras vertentes. Crysis 3 é lindo quando jogado a 60fps num monitor de 27'' a uma resolução de 1440p, apenas ao alcance de uma máquina bem apetrechada, em SLI ou CrossFire, e com gráficas de última geração. Retirando o grafismo, ficamos com um jogo vazio, sem chama, sem diversão. Chega a ser monótono em determinados momentos, não evolui, o mesmo se tinha passado com Crysis 2, que eu próprio analisei. Será este o fim da série? Quero acreditar que não.

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